quarta-feira, 22 de junho de 2011

- Coração de Bardo


Chega de poesia, disse o bardo
E lançou fora, como um dardo
Seu despedaçado e maldito coração.
Ah, ilusão infame, enganadora
Que nesta alma apaixonada e sofredora
Encontrou sua morada de paixão.

Houve um tempo em que um poema
Nascia, assim,  qual fosse o tema
Com palavras que surgiam graciosas
Mas na escuridão em que se encontrava
A palavra amiga lhe fugia, abandonava
E a melodia suave, agora lhe era odiosa.

Arranquem-me a cabeça, ele gritou
Arrebatando os cabelos, ao solo se lançou
Como um louco à beira do abismo.
Já não suporto mais a falta de amor
Gritava ele rolando, com olhos de rancor
Desumanidade, desafeto, ódio e cinismo.

Rolou e rolou e quedou cansado
Quase sem fôlego, quase desmaiado
E uma voz fraquinha seu ouvido alcançou.
“Acaso não te seria mais pesado o fardo
Seguir como os outros, não sendo mais bardo
Só porque a inspiração te abandonou?”

Mas uma voz sábia assim merece atenção
O bardo triste voltou os olhos em sua direção
E viu espantado de quem se tratava.
Pois na loucura em que rolava pelo chão
Acabou quedando perto do próprio coração
E viu se tratar dele que a fraca voz emanava.

“Põe me no peito e segue teu destino
Acaso não estamos juntos desde menino
E alguma vez faltei-lhe em precisão?
Não me lances fora, desgraçado
Ignoras que para quem nasce bardo
Pode-se perder tudo: menos o coração?”

E o maldito se deu por vencido
Arrastou-se ofegante, ainda caído
E a mão tremendo tateou e não alcançava
Ele gastara a pouca força que ainda tinha
Arrependeu-se da própria atitude mesquinha
Mas tarde demais: o coração não mais pulsava.

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