segunda-feira, 3 de setembro de 2012

- Calvin & Hobbes


Foram dez anos de publicação. A primeira tira de Bill Watterson saiu em 18 de novembro de 1985 e a última em 31 de dezembro de 1995. Calvin é um guri de seis anos e Hobbes é o seu companheiro de pelúcia, mas que, para o menino está tão vivo como um amigo verdadeiro.

O nome de Calvin foi inspirado no reformador religioso do século XVI, João Calvino, que discorreu, entre outros, acerca da depravação total do homem, ou seja, que o homem está naturalmente inclinado para promover o mal a seu próximo. Já o tigre recebeu o nome de Thomas Hobbes, um filósofo inglês do século XVII que tinha  uma visão obscura da natureza humana (é dele a famosa frase de que "O homem é o lobo do homem"). Aqui no Brasil, traduziram o nome de Hobbes para Haroldo, como se a homenagem não existisse e fosse apenas um nome qualquer. Os brasileiros tem uma queda para a chinelagem, mas isso é outro papo.

Ainda que ganhasse uma grana com seus desenhos, Watterson sempre teve um sentimento anticapitalista e antimerchandising. O cara proibiu expressamente sua editora de vender os direitos para lançar no mercado artigos baseados no Calvin. Abriu exceção pra meia dúzia de postais e pôsteres que hoje em dia são itens de colecionador. Camisetas e adesivos que a gente encontra por aí com os personagens não são originais e muitos deles mostram Calvin dizendo e fazendo coisas que nunca disse e nem fez. Esta proibição imposta por Bill Watterson ao merchandising da série também quer dizer que nunca serão criados desenhos animados, como aconteceu com Garfield e Snoopy.
Pra quem não conhece o Calvin, taí o guri:




Procure o conteúdo: vale a pena. Como Watterson sempre disse, a arte não deve ser julgada pelo meio em que é criada, ou seja, não há arte "alta" ou "baixa", apenas arte. E Calvin é uma das mais belas provas disso.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

- Pai do Blues no Brasil





Celso Ricardo Furtado de Carvalho começou a tocar guitarra profissionalmente com  Raul Seixas, isso aos 17 anos, em meados de 70 - gravou O Diabo é o Pai do Rock, com Raulzito.
Fundou as bandas Legião Estrangeira e Aero Blues, considerado o primeiro grupo de blues do Brasil. Acompanhou um balaio de gente, Renato e Seus Blues Caps, Sá e Guarabira, Luiz Melodia, Cazuza, e foi convidado pra integrar os Commitments, de Alan Parker.
A revista Backstage colocou Celso entre os 20 maiores guitarristas da história, e BB King (o Bibiquing mesmo!!!!), dividiu palcos e estúdios com ele, carregando o cara pelos EUA. O cara tocou no Festival de Montreaux, na Suíça e só não é mais conhecido aqui no Brasil, porque o Blues é um tipo de música para um pessoal seleto e, por aqui, se prefere Calypso, Teló e afins.
Ainda assim, na década de 80, o cara conquistou a fama com Som da Guitarra, disco solo que incluía os clássicos Aumenta que isso aí é Rock´n´Roll e Blues Motel. A voz rouca nas canções de qualidade fizeram com que Celso Blues Boy fosse o primeiro bluzeiro brasileiro de renome. Entre 1986 e 2011, lançou mais nove álbuns e um DVD ao vivo.
Celso Blues Boy morreu em 6 de agosto de 2012. Um câncer na garganta levou o cara. Mantinha a doença em segredo e, como queria, não teve velório, sendo cremado em Blumenau. Morava em Joinville, SC. No vídeo acima, BB King toca com ele.
O blues chora seu lamento arrastado, mais uma vez...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

- Desde 2011 sem Amy...


Combinando Jazz, Soul e R&B, Amy Winehouse tinha a voz que mesclava Billie Holiday e Lauryn Hill, trazendo um pouco dos anos 60 em cada canção. A guria tinha um talento inquestionável, no entanto, quando se pensa nela, em suas atitudes e estilo de vida, é quase que automática a ligação com as drogas e álcool, principalmente por pessoas que não acompanharam a trajetória musical do legado de Amy. Quem, no mundo do rock, jazz ou blues, não acaba se envolvendo com drogas e álcool? Jim Morrison, Keith Richards, Syd Barret, Ray Charles e outros tantos ícones, todos tiveram estas porcarias amarradas em suas carreiras como uma âncora. A mídia massacrava Amy com textos, fotos e filmes diariamente. Essa história é antiga: aqui no Brasil, enquanto se escolhiam as melhores fotos, takes e filmes das paniquetes para divulgação, O programa Pânico detonava a imagem de Amy, mostrando a guria como esculachada e louca. Citei só este exemplo, principalmente pela abrangência que este programa de vigésima categoria tinha por aqui. Também porque bunda não é talento. No resto do mundo não era diferente. Amy tinha uma vida conturbada, com relacionamentos ruins, mas não é difícil conseguir enxergar a garotinha que teve uma vida difícil, sob a imagem da mulher que fugia da realidade, mergulhando no mundo onírico e perigoso dos excessos. Amy lançou somente dois álbuns. Mas é considerada como uma das mulheres mais influentes do planeta. Influenciou Adele, Gabriela Cilmi, Paloma Faith, Duffy , Lady Gaga e mais um monte de gente, criando o renascimento do Jazz, a popularidade do Soul e muito do sucesso dos artistas britânicos de hoje em dia já foi atribuído a ela. Amy foi a iniciadora desta revolução, fazendo com que o público fosse mais tolerante com artistas menos convencionais. Em julho de 2011 Amy Winehouse bebeu até morrer. Cada um tem os seus problemas, só posso dizer que o corcunda sabe o jeito que ele deita.

"It's my party and i'll cry if i want to 
Cry if i want to 
Cry if i want to 
You would cry too if it's happened to you"

(It´s my party - Amy Winehouse)

sexta-feira, 30 de março de 2012

- Arte nas Ruas


No meu tempo - e não faz tanto tempo assim - os muros da cidade, de qualquer cidade, eram usados para passar alguma mensagem, dizer alguma coisa. "Quem não tem colírio usa óculos escuros, quem não tem papel, dá o recado pelo muro", cantava o sábio Raulzito.
Hoje em dia a chinelagem impera. Rabiscos que só quem escreveu entende, ou seja: se o cara não tem nada a dizer e não quer que leiam, escreve no muro. Uma geração exageradamente sem cérebro. Esse mundaréu de riscos nas paredes das casas são a versão podre dos grafites coloridos que se vê nos muros. Os grafites, por si, também se apresentam sempre com qualidade duvidosa. Não é necessário ter o senso estético apurado pra perceber que todos esses borrões, caras de cachorros com três olhos, gente fumando, imitação de pedras ou qualquer que seja o tema popular adotado nos muros é de uma desgraça visual deprimente. Não consigo ver isso como arte. Conheci um guri que desenhava fuscas nos muros. "Não sou vândalo, nem pichador: sou grafiteiro."
Segundo ele, é a cultura grafite: um spray na mão, hip-hop nas orelhas e mostrar o reflexo da cidade, das ruas para as ruas. Pra mim, não é arte. Sinto muito. É poluição visual.
Catei umas imagens na internet, nenhuma brasileira (provavelmente aqui a chinelagem riscaria em cima) do que eu penso ser arte nas ruas. Taí a mostra:






quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

- Guia Politicamente Incorreto


Quem não leu ainda, leia: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, do jornalista paranaense Leandro Narloch (tudo o que o cara escreve é bom!). Aparentemente, ele nasceu sem nenhum apego patriótico (que eu só sinto pelo Rio Grande) e escreveu um livro sensacional, derrubando mitos populares sobre heróis e episódios marcantes do país, sem frescura, contrariando opiniões que, ao longo do tempo, cristalizaram-se como verdades inquestionáveis. E, olha, tem cada coisa...
Por exemplo, o legendário Zumbi, o maior negro do Brasil, símbolo da consciência negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que trabalhassem na marra no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, infelizmente também para motivos óbvios e executava quem quisesse fugir do quilombo. Mas tudo isso era um comportamento comum, pois na Mãe África, inclusive, a mão de obra escrava era usada normalmente, negros explorando negros - chegando ao ponto de portugueses usarem escravos como moeda para comprar ouro africano. Sem papo de anacronismo, please.
O Aleijadinho, o escultor, é quase uma personagem de ficção. Aparentemente nunca existiu um quasímodo gênio tal como se divulga. As obras estão aí, o artista é que nunca esteve, pois muitas obras atribuídas a ele não lhe pertencem. A grife foi inventada, pelo lance retórico dos modernistas: "Eles escreveram sobre um escultor barroco como se ele fosse um artista romântico ou integrante das vanguardas modernas do século 20.”
O famoso voo de Santos Dumont é de 1906. Os irmãos Wright, norte-americanos, voaram em 1903, mas não valeu: o avião deles  - o Flyer - decolou impulsionado por catapulta, não por motor. Acontece que em 1904 e 1905 os gringos continuaram aperfeiçoando e voando, chegando a voos de dezenas de quilômetros, enquanto o famoso voo do 14 Bis foi de 220 metros - ele não conseguia voar, só dava uns pulinhos. “Em 1905, enquanto os irmãos Wright preparavam o Flyer para a venda, Santos Dumont passava tardes soltando pipas e atirando com arco e flecha. Não era só um passatempo francês, mas o aviador tentava aprender mais sobre aerodinâmica e asas planas, uma ciência nova para ele.” O brasileiro também não inventou o relógio de pulso, como se afirma, pois ele já era conhecido desde os tempos de Shakespeare. A rainha Elizabeth I (1533-1603) tinha um. Em 1868, a empresa Patek Philippe reinventou a peça, que também foi usada por militares nos campos de batalha do século 19, como na Guerra Franco-Prussiana. É brabo, mas é queijo, dizia uma velhinha sem dente comendo sabão. O livro ainda fala sobre o extermínio dos índios, Machado de Assis, Gilberto Freyre, Guerra do Paraguai e por aí vai. É uma leitura imperdível pra quem curte conhecer o lugar onde mora.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

- Sobre o tempo...


Todo dia é uma luta surda, silenciosa, dissimulada. Uma peleja que tomamos parte e que sabemos que vamos perder, mas ainda assim, lá estamos: firmes como prego em polenta. A criança, desde que nasce, já trava essa batalha silenciosa, pois a morte é realmente uma doença sexualmente transmissível e desde que nascemos, começamos a morrer. Assim, todos nós, brigamos contra o tempo, enquanto este desenha linhas em nossa face, vai nos deteriorando células e, com elas, um pouquinho da visão hoje, da audição amanhã.
Nada com que se preocupar. Afinal, a vida está aí, carpe diem e coisa e tal. Por mais que a gente dê risada, se divirta, procure os amigos, veja o pôr do sol no Guaíba, ainda assim os ladrões de tempo estão por aí, para nos roubar este ar precioso que nos oxida e que nos faz viver. São as filas no mercado, no banco, na espera dos ônibus, das reuniões, nos telefonemas que a gente quer e não chegam e nos que chegam e a gente não quer, tempo que vai se esgotando, vida que vai se esvaindo.
Eu gostaria de ter mais tempo. Gostaria de poder jogar no PC, gostaria de estudar mais, ler mais, escrever mais. Eu gostaria de cantar mais, tocar mais violão. Gostaria de poder desenhar mais, pintar mais, coisas que eu gosto de fazer e acabo quase nunca fazendo. 
Não que eu não faça essas coisas, mas acontece que a gente perde tanto tempo fazendo coisas que não gosta que acaba tendo que optar, sorteando as coisas a fazer, porque o tempo é tão curto. Primeiro, as obrigações, depois as responsabilidades.
Na mitologia grega, o titã Cronos, governante do céu, era casado com Réia e, quando seus filhos nasciam, ele os devorava. Assim ele fez com Fera, Hades, Poseidon, Héstia, Demeter... Quando foi devorar Zeus, seu sexto filho, este foi salvo por Réia, que deu um potro pra ele comer. Zeus cresceu, ficou adulto, enfrentou seu pai e fez ele vomitar seus irmãos. Iniciou-se a guerra dos deuses contra os titãs e estes últimos perderam. Zeus, posteriormente, partilhou o universo com seus irmãos: Poseidon ficou com os oceanos, Hades com o mundo dos mortos e ele mesmo, com o céu.
Pra quem não ligou o nome à pessoa, Cronos é o tempo (cronômetro, cronologia, etc.). Assim era e assim é: vai nos devorando desde que nascemos.
Não perca seu tempo. Não doe ele a gente chata, a trabalhos e situações maçantes, não perca seu tempo esperando pessoas e coisas que não valem a pena. Ontem eu estava jogando bolinha de gude com a piazada na São Tomé, em Viamão; hoje estou sentado na frente do micro, com ar de homem sério, cabelos grisalhos...
Se um visitante do blog leu este texto até aqui, meus sinceros agradecimentos. Se desistiu de ler, não tem problema, eu entendo. Não teve tempo.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

- Desenterrando uma banda



Bah, alguém aí já ouviu falar em Shocking Blue? Putz, uma pena. Essa banda não recebeu o crédito que merecia. Esses dias, ouvi um monte de músicas da época disco. Daí fiquei ouvindo Tina Charles, Roberta Kelly, Boney M e, lá no meio, achei uma que mais ou menos destoava do lance disco: Venus, do Shocking Blue. Claro que eu já conhecia a música, todo mundo que tem mais de 30 (ok, 40 anos) acabou ouvindo um dia, mas eu nunca tinha notado que, ouvindo essa música fora do contexto, era um rock bom!
Bueno, fui pro youtube, assisti o clip e achei aquilo meio tosco: o pessoal mandando ver num playback, a guria do vocal meio louca pra rir. Ouvi outras músicas e a qualidade ia aumentando a cada audição: os caras eram competentes paca.
Uma busca no google vai comprovar que não tem quase nada sobre a banda no Brasil, nem no resto. Shocking Blue foi uma banda holandesa, formada em 67. No começo, Fred de Wilde era o vocal, acompanhado por Robbie van Leeuwen, na guitarra e cítara; Klaasje van der Wal no baixo e Cor van der Beek na batera. O disco (tri bom) fez o pessoal ficar meio famoso na Holanda. Um ano depois, Mariska Veres entra no vocal, fazendo toda a diferença. Dos 70 em diante a banda fica conhecida no mundo inteiro pelo hit Venus, fazendo turnês nos EUA e pela Europa. A discografia conta com 12 álbuns e 41 singles! Como é que pode uma banda com um trabalho vasto e grande competência não ser lembrada?
Só o azar pode explicar isso... O número de singles dá pra mostrar que não é uma banda de um só hit. A música Love Buzz, primeiro single do Nirvana e, depois, remixada no álbum Bleach, é do Shocking Blue!
Bom... A vocalista Mariska Veres morreu em 2006, aos 56 anos, de câncer (apesar de Vênus ser o planeta regente de Touro - maldita piada infame). A discografia se encontra em torrent, pra quem tá sem spotify e semelhados. Bora procurar!