Há muitos anos, conversando com a Dafne, minha filha, vi que talvez um post assim fosse interessante. Vamos ver...
Hoje em dia, com tanto videogame, computador, celular, trecos que piscam luzes e fazem barulho, coisas que se mexem sozinhas, com tanta tecnologia, acho que ninguém mais conta historinhas para os filhos. Fui criado ouvindo esses contos de fadas e passei isso para os meus filhos também, como a humanidade inteira faz há séculos, mas atualmente a maioria dos pais deixa essa tarefa para a Disney. “Hay quem goste dos olhos e quem goste das remela”, como diz um velho ditado aqui do sul e não vou entrar nesse mérito. O corcunda sabe o jeito que ele deita. Quero é postar algumas das verdadeiras histórias dos contos de fadas, que foram sendo alteradas através dos tempos.
Bom, pra começo de conversa, elas eram entretenimento para adultos e não foram criados para se contar às crianças. Tem uma certa proximidade com as fábulas, onde animais falam e outras coisas estranhas acontecem, histórias permeadas de entes mágicos, mas estes contos originalmente não tem nenhum ensinamento moral, em sua maioria. Charles Perrault, escritor do século XVII, foi o sujeito que “limpou” estes contos, colocando conselhos e lições. São dele os contos “clássicos” conhecidos. Já quem transformou estes contos em literatura infantil foram os mascates que vendiam artigos domésticos de um povoado para o outro e, entre eles, os “chapbooks” (ou cheep books, livros baratos, em inglês): Jacob e Wilhelm, os irmãos Grimm. Eles só apareceriam em 1812, com a maioria de seus textos copiados do Perrault. Uns vinte anos depois o poeta e romancista dinamarquês Hans Christian Andersen escreveu cerca de duzentos contos infantis, parte retirados da cultura popular, parte de sua própria lavra. Estes contos consagraram Andersen como o verdadeiro criador da literatura infantil. Depois vieram Lewis Carroll, com a Alice; Carlo Collodi, com o Pinóquio, J. M. Barrie com o Peter Pan e por aí vai... Mas, vamos aos três contos que escolhi:
BRANCA DE NEVE
Os irmãos Grimm ouviram a história das irmãs Jeannette e Amalie Hassenpflug e popularizaram o conto como Little Snow-White.
Aos sete anos, Branca de Neve provocou a ira da madrasta rainha por causa de sua beleza. Esta pede para que um caçador leve a criança para a floresta, que a mate e traga seu coração, pulmões e fígado para provar a morte. O caçador tem pena da menina e a deixa fugir, levando pra rainha os órgãos de um javali. Então a rainha come os órgãos (saboreando o que pensa ser as vísceras da pequena enteada)
A menina encontra a casa dos sete anões e eles a deixam ficar por ali, em troca de lavar, passar, costurar, limpar e arrumar a casa. A rainha descobre que ela ainda vive e tenta matar a garota em três visitas: Na primeira, ela leva um corpete de seda, e tenta matar apertando o corpete bem forte. Depois traz um pente envenenado e tenta matar penteando seus cabelos. Na terceira vez ela vem com a famosa maçã. Dessa vez os sete anões chegaram tarde demais e não conseguem acordar Branca de Neve. Ela continua uma criança linda e corada e eles a colocaram em uma cripta de vidro, sem coragem de enterrá-la.
Um dia um príncipe (pedófilo, claro: a guria tinha só sete anos!) viu a cripta com a menina e encheu o saco dos anões até ficar com ela. Seus empregados carregavam a cripta de um lado para o outro, mas um deles tropeçou e caiu, derrubando o caixão de vidro. Com a queda, Branca de Neve cuspiu o pedaço de maçã envenenada e voltou a viver.
O príncipe e Branca de Neve planejam então uma festa de casamento (viu só!) e convidam a madrasta má, porque é chegada a hora da vingança. A mulher se arruma e quando se olha no espelho mágico pergunta a ele sobre quem é a mais bela do reino e descobre que a menina está viva. Ela não dá muita bola e vai ao casamento. Quando vê que a noiva realmente é Branca de Neve, é tarde demais: eles colocam um par de sapatos de ferro na brasa, depois vestem o sapato na madrasta, a fazendo dançar até cair morta.
A BELA ADORMECIDA
Em 1634, o italiano Giambattista Basile escreveu o conto com o nome Sol, Lua e Tália (Sun, Moon, and Talia). Charles Perrault deu uma ajeitada na história e lançou A Bela Adormecida (Belle au bois Dormant), em 1697. Os irmãos Grimm também acharam o conto interessante e mudam o nome para Little Brier-Rose. O conto diz que uma farpa de linho entra sob a unha da princesa Tália e ela imediatamente cai adormecida, conforme uma profecia. O rei coloca sua filha em uma cadeira de veludo no palácio, tranca a porta e parte para sempre, tentando esquecer a sua dor. Algum tempo depois, outro rei que estava por ali caçando encontra a moça. Ele tenta acordá-la, mas, como não consegue, estupra a guria dormindo mesmo e vai embora. Nove meses depois Tália dá a luz aos gêmeos Sol e Lua, ainda sem acordar. Um dia um dos bebês suga o dedo da moça, não conseguindo encontrar o seio. Acaba extraindo a farpa e ela acorda. A guria viu que a vida dela mudou num piscar de olhos e se vê num mato sem cachorro com dois filhos pra criar.
Daí um dia, o rei estuprador se lembra dela e volta ao mesmo lugar, para ver se se diverte mais. A esposa do rei descobre e manda cozinhar as duas crianças para o marido jantar, mas o cozinheiro prepara cabritos no lugar. Então a rainha manda buscar Tália para lançá-la ao fogo, mas o rei chega e atira a própria esposa no lugar de Tália. Ele casa-se com Tália e vive com ela e seus filhos.
CHAPÉUZINHO VERMELHO
Na versão de Charles Perrault, Chapeuzinho é uma garotinha bem educada que acaba recebendo instruções falsas quando pergunta ao lobo sobre o caminho até a casa da vovó. No final, o lobo se dá bem e devora a menina, para que a moral da história seja a de que não se deve falar com estranhos.
Já na versão dos irmãos Grimm, o caçador chega na casa da vovó, vê o lobo dormindo e então usa uma tesoura para abrir a barriga do bicho e tirar as duas de dentro. Antes que o lobo acorde, a Chapeuzinho enche sua barriga com um monte de pedras pesadas. Assim que o lobo acorda e tenta correr, não consegue por causa do peso, então cai morto.