quinta-feira, 31 de março de 2011

- Poema de Amor Medieval


Havia um camponês, certa feita
Que por uma camponesa suspirava
E em todo tempo de colheita
Com a camponesa encontrava.
Trocavam somente olhares
De suas vidas nada sabiam
E, assim, regressavam aos seus lares
Por saber que iam voltar, partiam.

Todo ano o campônio pensava
“Vou falar-lhe, tenho essa coragem!”
Mas a colheita iniciava e cessava
E ele contentava-se em ver sua imagem.
Um dia, andando no vilarejo
Eis que da camponesa a morada encontrou
E, alegria, vibrou-lhe tanto o desejo
Até que o companheiro dela, ele notou.

Ah, maldição do tempo já perdido!
Havia chegado tarde em seu coração.
Antes jamais a tivesse conhecido
Do que amar de longe, assim, como um ladrão.
Suspirava o campônio triste
Sentindo pena dela e de si mesmo
Mal maior será que existe?
Seguiu errante, caminhando a esmo.

“Não, espere, não vá embora!”
Atrás de si uma voz ele ouviu
Virou-se e pensou: era chegada a hora
E, finalmente ele falou, sua voz saiu:
“Sempre te amei, linda camponesa,
faltava-me coragem para  dizer
E agora vejo com dor, que estás presa
Mas, se me amas, me dá razão para viver.”

“Espera por mim, camponês errante
Ele me tem, mas não meu coração.
Estarei junto de ti, ainda que distante.
Vou me libertar, no solstício de verão.”
E o camponês morria toda a noite
E no dia seguinte acordava e renascia
A espera o marcava, como um açoite
Somente por ela agora, ele vivia.

Emagreceu, ficou doente, definhou
O tempo passava, lento a cada segundo
Olhando a lua ele esperou e esperou
Nada mais lhe interessava nesse mundo.
Ah, mas o amor profundo não é assim?
Esqueceu-se de comer e beber, era só esperar.
Mas todo o sofrimento tem seu fim
E o camponês perdeu a vida, sem notar.

E o solstício veio, e com ele a colheita
E a camponesa finalmente se libertou
Procurou o campônio, a prisão já desfeita
Mas, por mais que procurasse não o encontrou.
Acaso teria desistido de tanto esperar?
Não, ela sabia o quanto era querida
Sentou em uma pedra e resolveu aguardar
O regresso do verdadeiro amor de sua vida.

Passou o tempo, a camponesa esperava
Onde estaria o seu campônio amado?
Definhava de dia e à noite chorava
Agora ela sabia o que ele havia passado.
Perdeu a alegria, a saúde e a razão
Não era mais por ele, a morte ela ansiava
E, por fim, numa noite, acabou-lhe a solidão
E ela nem acreditou quando viu quem a olhava.

“Minha doce amada, pega minha mão
Estive aqui o tempo todo, do teu lado
Não me vias nem ouvias, mas nada foi em vão
Quando cansada, tu dormias, eu ficava acordado.
Não há nada mais triste que esperar junto
Ver sem ser visto, beijar sem ser beijado.
Cada um esperando pelo outro, no seu mundo
Mas vem comigo viver, isso tudo já é passado.”

Havia um camponês, certa feita
Que por uma camponesa suspirava
A vida é limitada, estrada estreita
Mas a eternidade, que a tudo acompanhava
Transfigurou em milagre o amor ao léu
Os fez eternos, sem limites, como antes
Hoje são duas estrelas brilhando, lá no céu,
Iluminando os sonhos dos amantes.

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